Nosso processo evolutivo é decorrente da desconstrução de uma natureza que entra em processo de declínio, ocasião em que se tornará necessário revisão em nosso sistema de crenças para a construção concomitante de nova natureza, compatível com a realidade da nossa posição na curva existencial. O casamento, por ser um episódio na curva da existência, constitui uma ferramenta para essa metamorfose.
A afetividade, ao longo da vida, sofre diversas transformações em sua natureza, evoluindo em direção ao amor incondicional.
Costumeiramente iniciado pela paixão (estado afetivo de média intensidade e média duração), cada um irá projetar no outro o ideal feminino ou masculino. Possuindo em seus inconscientes uma natureza juvenil, vivenciarão um estado de encantamento.
A substituição da busca da ilusão pela admiração é um rito de passagem da fase do amor romântico para o amor de ação, que requer um novo grau de maturidade.
Os românticos guardam suas sombras no inconsciente. A partir do amor de ação, a existência dessa sombra necessita ser aceita pelo casal, pois vivenciamos na transitoriedade um processo de aperfeiçoamento e nessa fase, cobranças mútuas, desde que legítimas, se tornam necessárias.
Ao longo dessa integração, a paixão vai se transformando com ações que produzirão admirações recíprocas. Inicia-se então o desenvolvimento de uma interação espiritual onde o relacionamento conjugal passa a ser visto como um meio de se chegar a um fim. A constituição de uma família (e isso inclui filhos, netos, bisnetos,) é uma demonstração do amor de ação, e certamente a paixão inicial, que sofreu as metamorfoses adequadas, se transformará em sentimento (estado afetivo de pequena intensidade, com profundidade e grande duração). O respeito e a vontade de crescer juntos são indícios de maturidade para que uma relação possa manter o seu curso.
Na terapia para casais, principalmente quando utilizamos a ferramenta da interpretação de sonhos, vamos perceber que desajustes conjugais são usuais ao longo desse processo de metamorfose, apontando o caminho para que seja levado a bom termo esse inadiável rito de passagem.